Revisão do LANCET confirma papel protetor renal dos iSGLT2
drcarlosseraphim • December 1, 2020
O consenso do ADA de 2019 já previa que o tratamento de diabetes tipo 2 tivesse a preocupação não apenas do controle da glicemia (níveis de açúcar no sangue), mas também de utilizar medicações que tivessem papel de prevenção de doença renal e cardiovascular, em pacientes de alto risco. Os iSGLT2 são os inibidores do cotransportador sódio e glicose do tipo 2. Existem vários tipos, mas o mecanismo básico de ação é sempre o mesmo: ao inibir esse transportador, fazem com que o paciente perca glicose na urina. Desta forma, há diminuição dos níveis de glicose no sangue, pois há um “desperdício” de glicose pela urina, o que pode ajudar também a perder um pouco de peso (esse efeito é limitado porque não atua sobre o apetite). É importante lembrar que esse mecanismo de diminuição da glicemia não depende da insulina, e isso faz com que o uso seja bem limitado em pacientes com diabetes do tipo 1, pois traz alguns riscos.

Diversos trabalhos recentes (EMPA-REG OUTCOMES, CANVAS e CREDENCE, DECLARE) já apontavam que, além dos benefícios de controle dos níveis de glicemia, essas drogas tinham duas outras funções importantes:
- Redução do risco de doenças cardiovasculares: esse efeito não foi encontrado para todas as drogas da classe, e é observado, a princípio, em pacientes com alto risco.
- Redução do risco de doença renal: esse é o efeito que o artigo do Lancet trata.
Apesar de já sabermos há algum tempo que essa medicação protege o rim, o trabalho do Lancet deu maior poder de análise, pois avaliou dados de 38.723 pacientes. Com toda essa casuística, as conclusões foram:
- Redução de risco de diálise, transplante renal ou morte por causa renal de 33%;
- Redução do risco de insuficiência renal aguda em 25%;
- Redução de progressão para doença renal terminal em 35%.
Alguns detalhes interessantes:
- O efeito de proteção renal foi maior em quem ainda não tinha lesão renal, mas também foi observado em quem já tinha alguma perda de função;
- O efeito era independente do fato de o paciente já ter albuminúria ou fazer uso de outras drogas que protegessem o rim;
- O efeito era heterogêneo entre os estudos e drogas analisadas.
Vale destacar: essas medicações tem interações, indicações e contra-indicações que só seu endocrinologista vai saber conciliar. Não se auto-medique de forma alguma, o caráter desse post é apenas educativo. Sua saúde merece respeito! Referência: Neuen BL et al. SGLT2 inhibitors for the prevention of kidney failure in patients with type 2 diabetes: a systematic review and meta-analysis. Lancet Diabetes Endocrinol 2019; epub September 5. DOI: https://doi.org/10.1016/S2213-8587(19)30256-6.
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