Jejum intermitente
drcarlosseraphim • December 1, 2020
Um artigo recente publicado na revista “Cell Metabolism” que mostra os benefícios do jejum intermitente tem repercutido bastante na mídia. Será que é tão bom assim? Vamos ver?
O que é jejum intermitente?
É uma estratégia de dieta em que o indivíduo faz um período variável de jejum ao longo do dia ou da semana, restringindo a sua alimentação ao período restante. Cabem aqui duas explicações importantes:
1 – Não necessariamente é uma dieta hipocalórica, ou seja, com poucas calorias, que levaria à perda de peso. O jejum intermitente tanto pode ser feito em conjunto com a restrição de calorias (visando ao emagrecimento), quanto como “reeducação alimentar” – isso porque os defensores do jejum intermitente acreditam que haveria outros benefícios sobre o metabolismo de realizar o jejum intermitente.
2 – Não há uma forma única de fazer isso. Cada artigo propõe uma maneira, e fica difícil avaliar com tantas variáveis o que de fato funciona. Confira no gráfico abaixo algumas das formas de fazer o jejum intermitente:

Diversas formas de jejum intermitente
O que a pesquisa da Cell Metabolism nos conta?
A pesquisa foi realizada em 19 participantes. Note que o número de indivíduos não é muito grande, o que já limita de início a interpretação dos resultados.Todos os pacientes tinham síndrome metabólica, o que foi um diferencial deste estudo. Estes indivíduos foram orientados a fazer um jejum de 14 horas e se alimentar apenas em um período de 10 horas por 12 semanas. Durante este período, os participantes perderam peso, melhoraram a pressão, diminuíram a circunferência abdominal, diminuíram o colesterol e melhoraram o sono.
O estudo utilizou um app chamado “myCircadianClock”. Vale a pena conferir, até porque os dados coletados no app serão utilizados para estudos posteriores.
Parece tudo de bom né? Espera um pouco e lê a próxima parte do post.
Quais as limitações desse estudo?
O estudo é interessante, mas temos que tomar muito cuidado antes de generalizar. Em primeiro lugar, o estudo excluiu 3 pacientes que não foram aderentes ao protocolo. Não é um número absurdo, mas tende a enviesar os resultados, pois foram selecionados pacientes com melhor adesão.
O segundo ponto é o mais importante: a estratégia de jejum intermitente não foi comparada com outro tipo de dieta com a mesma quantidade de calorias. Isso é importante, pois os pacientes que fizeram jejum intermitente diminuíram na média 9% das calorias que ingeriam antes. Não é possível dizer que os resultados bons do estudo foram pelo jejum intermitente, pois sabemos que perder peso gera os resultados. Será que qualquer dieta com 9% de calorias a menos não teria o mesmo efeito?
Conclusão
O estudo em si não muda muito o que já se sabia: para perda de peso o importante é diminuir calorias. O jejum intermitente é uma forma de diminuir calorias que para algumas pessoas pode funcionar muito bem. Temos só que atentar que para outros indivíduos não é a melhor estratégia.
Algumas pessoas acham que o jejum intermitente facilitaria a cetose, no entanto, isso não é comprovado em humanos e, além disso, para a maioria dos indivíduos é necessário mais que 16h de jejum para fazer cetose.
Sempre vale a máxima – se uma dieta é tão boa assim, porque as pessoas ainda têm dificuldade em perder peso? Não acredite em fórmulas mágicas! Portanto, o jejum intermitente, quando restringe calorias (não vale exagerar/compensar nas horas de alimentação) é mais uma estratégia para perda de peso, que pode encaixar bem na rotina de algumas pessoas. Para muitas outras, é insustentável a longo prazo e socialmente ruim (limita as saídas para restaurantes, etc). Para estas não é necessário se forçar a fazer jejum, o ideal é adequar sua dieta de uma forma que seja saudável e sustentável. Restringindo calorias, sempre haverá perda de peso de forma semelhante.
Vai uma dica: se for fazer jejum intermitente, prefira fazer o jejum à noite, e não de manhã. No futuro vou explicar porque – cadastre-se e siga o blog para ficar em dia!
Lembre-se: o acompanhamento para perda de peso deve sempre envolver um endocrinologista, um nutricionista, um treinador físico, entre outros!
Quer saber mais? Continue acompanhando o blog e siga no Instagram.